1,5 milhão de cearenses vivem com até R$ 2,33/dia
Em Fortaleza, 133.992 pessoas têm este perfil. Regionais V e VI concentram casos mais críticos na Capital
A alegria de Francisca Íris, 38, tem cor amarelo-ovo e repousava no sofá ao relento quando O POVO encontrou com ela e “Coitada”, a cachorra, no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, ontem à tarde. Estar no rol de 1,5 milhão de cearenses cuja renda familiar mensal é inferior a R$ 70 por pessoa só permite o mínimo da subsistência. Faz a mulher e o companheiro Sebastião Morais da Silva, 48, o “Gil”, encontrarem no descarte alheio refeições para uma semana num saco encardido, povoado de moscas e cheio de sobras de gordura de carne bovina. Mas não tira o sorriso e a vontade de poesia dos dois. Ela já salvou da morte no lixo três buquês de flores. “Não queria que elas morressem”, explica Íris - a “Lôra”.
Apenas em Fortaleza, 133.992 “Lôras” e “Gils da Favela” tentam sobreviver com até R$ 2,33 por dia, segundo relatório do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Banheiro? Luxo. Colchão para dormir? A metade carcomida de um encontrado na rua. Sonhos? Milhares. A começar por trazer os dois filhos para debaixo do mesmo teto. Teto? Lona. “Mas eu gosto daqui. É uma comunidade boa; calma”, diz ela, referindo-se ao bairro da capital com o maior número de pessoas na extrema pobreza (ver quadro ao lado).
O índice de 17,8% de cearenses com este perfil é o terceiro maior do País, conforme o Ipece. Fica atrás apenas dos estados do Maranhão e Bahia. O de Fortaleza (5,46% da população) é o menor do Estado. Em números absolutos, porém, ocupa o topo do ranking por ser a mais populosa com seus 2,5 milhões de moradores.
Jornal O POVO, 06/11/2012.
O principal problema retratado na notícia acima é: