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A coruja e a águia
A coruja e a águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.
— Basta de guerra — disse a coruja. — O mundo é grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra coisa.
— Neste caso combinamos isto: de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem- feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico aberto.
— Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja. E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca, a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.
— Quê? — disse esta, admirada. — Eram teus filhos aqueles monstrengos?
Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...
Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai.
Lá diz o ditado: quem o feio ama, bonito lhe parece.
Monteiro Lobato. Ciência hoje das crianças, MEC/FNDE, ano 10, nº 66, p. 08.
A coruja e a águia, depois de muitas brigas resolveram fazer as pazes porque