A rua do Caloca
Bendito o bairro em que os meninos ainda podem jogar futebol pelas calçadas. Ipanema, as ruas amenas de
Ipanema estão sempre cheias de meninos a chutar bolas. Hoje de manhã, mesmo, passei por dois garotinhos,
um de seis anos, outro de três, no máximo: o maior ensinava, pacientemente, o menor a chutar com o peito do
pé e, ontem, a turma da Rua Barão de Jaguaribe enfrentou o time da Rua Redentor.
Quando estou folgado, subo e desço as ruas da vizinhança, olhando os meninos no futebol: são vinte, trinta de
cada lado, todos garotinhos abaixo de dez anos, ardendo na pelada que nunca tem hora para acabar; não há
muito rigor contra a violência e só uma regra é respeitada − a mão na bola. Tocou o dedo na bola, falta, “quem
cobra sou eu” e forma-se um bolinho em volta da bola, parece cobrança de pênalti no Maracanã.
De quando em quando, um automóvel interrompe a partida de futebol, mas invariavelmente os motoristas têm
o carinho de reduzir a marcha a uma velocidade que não ponha em risco a vida das crianças e que, por outro
lado, lhes permita desfrutar, ainda que como espectadores, das emoções da pelada.
Das ruas, a mais encantadora, sem desmerecer as outras, é a Redentor, que eu saúdo como a rua do time do
Caloca. Pena é que, numa das esquinas, more uma senhora estranha ao clima espiritual deste bairro, onde as
meninas brincam de cantigas de roda e os meninos de jogar futebol.
Se eu fosse alguma coisa neste país, já teria corrido de Ipanema aquela mulher rabugenta, que, na presença
de vinte meninos, furou a bola deles com uma tesoura e, depois, cortou em pedacinhos. Só porque uma
rebatida imprecisa do Diguinho jogou a bola contra a casa dela.
Era uma bonita bola, rosada, Seleção de Ouro, que os meninos tinham comprado em uma vaquinha por
novecentos cruzeiros.
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Assinale a alternativa correta sobre as informações contidas no texto.