• #1 1 pt(s)

    (Enem-2012)

    Desabafo

    Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.

    CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).

    Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois:

  • #2 1 pt(s)

    (Ibmec-2006)

    Me devolva o Neruda (que você nem leu)

    Quando o Chico Buarque escreveu o verso acima, ainda não tinha o “que você nem leu”. A palavra Neruda - prêmio Nobel, chileno, de esquerda - era proibida no Brasil. Na sala da Censura Federal o nosso poeta negociou a proibição. E a música foi liberada quando ele acrescentou o “que você nem leu”, pois ficava parecendo que ninguém dava bola para o Neruda no Brasil. Como eram burros os censores da ditadura militar! E coloca burro nisso!!! Mas a frase me veio à cabeça agora, porque eu gosto demais dela. Imagine a cena. No meio de uma separação, um dos cônjuges (me desculpe a palavra) me solta esta: me devolva o Neruda que você nem leu! Pense nisso.

    Pois eu pensei exatamente nisso quando comecei a escrever esta crônica, que não tem nada a ver com o Chico, nem com o Neruda e, muito menos, com os militares.

    É que eu estou aqui para dizer um tchau. Um tchau breve porque, se me aceitarem - você e o diretor da revista -, eu volto daqui a dois anos. Vou até ali escrever uma novela na Globo (o patrão vai continuar o mesmo) e depois eu volto.

    Esperando que você já tenha lido o Neruda.

    Mas aí você vai dizer assim: pó, escrever duas crônicas por mês, fora a novela, o cara não consegue? O que é uma crônica? Uma página e meia. Portanto, três páginas por mês e o cara me vem com esse papo de Neruda?

    Preguiçoso, no mínimo.

    Quando faço umas palestras por aí, sempre me perguntam o que é necessário para se tornar um escritor. E eu sempre respondo: talento e sorte. Entre os 10 e 20 anos, recebia na minha casa O Cruzeiro, Manchete e o jornal Última Hora. E lá dentro eu lia (me invejem): Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta, Carlos Heitor Cony. E pensava, adolescentemente: quando eu crescer, vou ser cronista.

    Bem ou mal, consegui meu espaço. E agora, ao pedir de volta o livro chileno, fico pensando em como eu me sentiria se, um dia, um desses aí acima escrevesse que iria dar um tempo. Eu matava o cara! Isso não se faz com o leitor (desculpe, minha amiga, não estou me colocando no mesmo nível deles, não!)

    E deixo aqui uns versinhos do Neruda para as minhas leitoras de 30 e 40 anos (e para todas):

    Escuchas otras voces en mi voz dolorida

    Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas,

    Amame, compañera. No me abandones. Sigueme,

    Sigueme, compañera, en esa ola de angústia.

    Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras

    Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas

    Voy haciendo de todas un collar infinito

    Para tus blancas manos, suaves como las uvas.

    Desculpe o mau jeito: tchau!

    (Prata, Mario. Revista Época. São Paulo. Editora Globo, Nº - 324, 02 de agosto de 2004, p. 99)

    Relacione os fragmentos abaixo às funções da linguagem predominantes e assinale a alternativa correta.

    I - “Imagine a cena”.

    II - “Sou um homem de sorte”.

    III - “O que é uma crônica? Uma página e meia. Portanto, três páginas por mês e o cara me vem com esse papo de Neruda?”.

  • #3 1 pt(s)

    (Unifesp-2002)

    Texto I:

    Perante a Morte empalidece e treme,

    Treme perante a Morte, empalidece.

    Coroa-te de lágrimas, esquece

    O Mal cruel que nos abismos geme.

    (Cruz e Souza, Perante a morte.)

    Texto II:

    Tu choraste em presença da morte?

    Na presença de estranhos choraste?

    Não descende o cobarde do forte;

    Pois choraste, meu filho não és!

    (Gonçalves Dias, I Juca Pirama.)

    Texto III:

    Corrente, que do peito destilada,

    Sois por dous belos olhos despedida;

    E por carmim correndo dividida,

    Deixais o ser, levais a cor mudada.

    (Gregório de Matos, Aos mesmos sentimentos.)

    Texto IV:

    Chora, irmão pequeno, chora,

    Porque chegou o momento da dor.

    A própria dor é uma felicidade...

    (Mário de Andrade, Rito do irmão pequeno.)

    Texto V:

    Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira

    é esta,

    Que impudente na gávea tripudia?!...

    Silêncio! ... Musa! Chora, chora tanto

    Que o pavilhão se lave no teu pranto...

    (Castro Alves, O navio negreiro.)

    Dois dos cinco textos transcritos expressam sentimentos de incontida revolta diante de situações inaceitáveis. Esse transbordamento sentimental se faz por meio de frases e recursos linguísticos que dão ênfase à função emotiva e à função conativa da linguagem. Esses dois textos são:

  • #4 1 pt(s)

    (Enem-2014)

    O telefone tocou.

    — Alô? Quem fala?

    — Como? Com quem deseja falar?

    — Quero falar com o sr. Samuel Cardoso.

    — É ele mesmo. Quem fala, por obséquio?

    — Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel?

    Faça um esforço.

    — Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se trata?

    (ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.)

    Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no texto a função:

  • #5 1 pt(s)

    (Enem-2014)

    Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou talvez, vicedito: indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência.

    (ROSA, G. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001) (fragmento).

    Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa, depreende-se a predominância de uma das funções da:

  • #6 1 pt(s)

    (Enem 2013)

    Até quando?

    Não adianta olhar pro céu

    Com muita fé e pouca luta

    Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer

    E muita greve, você pode, você deve, pode crer

    Não adianta olhar pro chão

    Virar a cara pra não ver

    Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus

    Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!

    GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).

    As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto:

  • #7 1 pt(s)

    (ENEM)

    Óia eu aqui de novo xaxando

    Óia eu aqui de novo pra xaxar

    Vou mostrar pr’esses cabras

    Que eu ainda dou no couro

    Isso é um desaforo

    Que eu não posso levar

    Que eu aqui de novo cantando

    Que eu aqui de novo xaxando

    Óia eu aqui de novo mostrando

    Como se deve xaxar.

    Vem cá morena linda

    Vestida de chita

    Você é a mais bonita

    Desse meu lugar

    Vai, chama Maria, chama Luzia

    Vai, chama Zabé, chama Raque

    Diz que tou aqui com alegria.

    (BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em Acesso em 5 mai 2013)

    A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma do falar popular regional é:

  • #8 1 pt(s)

    (ENEM)

    Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não!

    Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo dos dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas.

    (POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).

    Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber:

  • #9 1 pt(s)

    ENEM

    De domingo

    — Outrossim?

    — O quê?

    — O que o quê?

    — O que você disse.

    — Outrossim?

    —É.

    — O que que tem?

    —Nada. Só achei engraçado.

    — Não vejo a graça.

    — Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.

    — Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo.

    — Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.

    — Não. Palavra de segunda-feira é óbice.

    — “Ônus.

    — “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.

    — “Resquício” é de domingo.

    — Não, não. Segunda. No máximo terça.

    — Mas “outrossim”, francamente…

    — Qual o problema?

    — Retira o “outrossim”.

    — Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.

    (VERÍSSIMO. L.F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: LP&M, 1996).

    No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o (a):

  • #10 1 pt(s)

    ENEM

    PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.

    BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.

    EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.

    BENONA: Mas, Eurico, nós lhe devemos certas atenções.

    EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado da verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.

    (SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olimpyio, 2013)

    Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para:

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Quiz criado por clevania217 em 01/12/2020 e atualizado em 04/01/2022. Esse quiz foi resolvido 1177 vezes.
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